Resumo dos Principais Filósofos


Adam Smith: economista escocês, dizia que o trabalho de uma nação é a principal fonte geradora dos bens que necessita a comunidade. O aumento da produtividade do trabalho depende de sua divisão, que repousa na propensão que tem a natureza humana para trocar uma coisa por outra. A acumulação de capital funciona como em uma das condições prévias dessa divisão Quando à noção do valor, surgiu como troca de mercadoria. O termo valor apresenta dois significados, o da utilidade e o de poder de compra, este o valor de troca e aquele o valor de uso. Analisando a estrutura da sociedade capitalista, Adam chegou a conclusão da divisão da sociedade em três classes fundamentais da sociedade: o operariado, os capitalistas e os proprietários de terra. Defendendo um sistema econômico liberto da ação do Estado, é de sua autoria a famosa metáfora da mão invisível que rege a economia e que, portanto, não se devia o governante interferir neste sistema harmônico.

Thomas Hobbes: nascido durante o apogeu do Absolutismo, tendo uma vida humilde e sendo auxiliado pelo poder absolutista para sua ascensão social e acadêmica, Hobbes teve como base de seus estudos o intuito de apoiar o Absolutismo Monárquico que tanto favoreceu-o. Durante sua vida, buscou combater o parlamentarismo inglês, já que era crítico da democracia e acreditava que todo o poder devia ser concentrado nas mãos dos reis e a população que naturalmente era um ser selvagem e que não conseguiria achar a salvação por si próprio deveria abdicar de sua liberdade para que o rei assim pudesse salvar e guiar a humanidade. Para Thomas, o poder não vinha da Predestinação Divina dos Reis, mas sim do pacto que a população fazia com o monarca. 

John Locke: opondo-se aos ideais de Thomas Hobbes, tem-se Locke. Enquanto Hobbes defendia a monarquia inglesa, Locke ajudou ela ser derrubada. Hobbes defendia que a humanidade já nasce corrompida, já Locke, defendia que nenhuma ideia ou pensamento é inato, tudo é construído. John acreditava que os seres humanos nasciam com direitos naturais, sendo eles, em síntese, direito à vida, liberdade e à propriedade e para que estes direitos fossem garantidos, a humanidade teria criado os governos. Quando esses governos não fizessem sua função, isto é, garantir estes direitos, o povo poderia revoltar-se contra ele e dissolvê-lo. O Liberalismo de John Locke tinha como identidade a defesa à liberdade individual, em todos os campos, mas em especial ao político. É louvável salientar que assim como Hobbes, John também não acreditava na Origem Divina dos Reis. O liberalismo político também acredita que assim como os cidadãos, os governos também são submetidos à lei: obedeceriam a Constituição e que o governo não poderia interferir na vida privada de um cidade que cumpre a leis em absoluto.

Jean Jacques Rousseau: influenciado pelos pensamentos Locke, Rousseau postulou sobre a vontade geral, porém, deve-se atentar que “Vontade Geral” não é a mesma coisa que vontade da maioria ou até da totalidade dos cidadãos, “Vontade Geral” é entendido, por Rousseau, como sendo a vontade de um corpo político que representaria e assumiria como intérprete da vontade do povo. Para que essa Vontade Geral predominasse era preciso que não existisse nenhuma outra instituição menor ou de igual poder que o Estado, isto é, o Estado seria a única instituição a modificar a vida da população, o que, em interpretação extrema, significa que a igreja, as religiões em geral, os partidos políticos e quaisquer outras instituições não poderia existir, porém, caso o governo passasse a não mais representar os desejos da população, o povo teria o direito de derrubar qualquer tipo de sistema de opressão. O indivíduo, para Rousseau, deveria pensar apenas por si. Para Jean, a democracia perfeita seria impossível atingi-la e com esse intuito que ele escreve Do Contrato Social, onde as pessoas estabeleceria um contrato para que a Vontade Geral fosse estabelecida e os direitos da coletividade fosse garantida, assim como Locke vislumbrou. É o único pensador do Iluminismo que tenha aproximado dos anseios populares, com a defesa da soberania popular. Criticava o individualismo burguês antes mesmo que a burguesia estivesse no poder. Era conhecido como "Pai do Romantismo" (já que defendia a teoria do bom selvagem, muito utilizado no terceiro período do Romantismo, aqui no Brasil conhecido com Indianismo). Em seu estudo Discurso sobre a Origem e Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, Rousseau argumenta que todos os males da civilização são originados da propriedade privada, que determinou as diferenças sociais e o surgimento de ominadores e dominados. Para superar esta dominação, ele propôs o já citado contrato social. Para Rousseau, a força não estabelece poder, o poder só é estabelecido quando ele é legítimo e ele só é legítimo quando for respeitado o contrato. É de sua autoria a celebre frase "O homem nasce bom, mas a sociedade que o corrompe.", pode-se perceber uma oposição clara à Hobbes. Vale destacar que, além da possibilidade da existência de "ricos" e "pobres", a desigualdade entre os outros, a instituição da propriedade privada também permitiu o desenvolvimento das artes e das línguas, a competição e a mútua dependência entre os homens.
Rousseau no início de sua obra afirma que existem dois principais tipos de desigualdade entre os homens: a natural ou física e a moral ou política. Na desigualdade natural os homens se diferenciam pela idade, saúde e força corporal. Esta desigualdade é uma consequência natural da própria espécie perante a variedade de composições que os homens podem adotar. No caso da desigualdade moral ou política, esta se dá devido às convenções estabelecidas entre homens, para que exista a possibilidade de convivência coletiva. A convenção do conceito de propriedade somado a desigualdade natural existente entre os homens, vai firmar a desigualdade por meio dos diferentes privilégios desfrutados por alguns em prejuízo dos demais, como o de serem mais ricos, mais respeitados, mais poderosos ou mesmo mais obedecidos.
Um curiosidade acerca de Rousseau é que ele não se restringiu ao campo filosófico e teórico, ele preocupou-se com a pedagogia, redefinindo princípios e combatendo preconceitos comuns entre os mais conservadores.


Charles de Secondat (Montesquieu): também influenciado por John Locke e pelo seu pensamento de divisão dos poderes, além do grego Aristóteles, Montesquieu buscou um forma de reformular as instituições políticas. Com esse intuito surge a divisão tripartite, onde o poder estaria dividido em três partes de igual importância, com autonomia, porém, com intervenção e fiscalização mútua. Tal interpretação é que cada Poder deveria realizar sua função, porém, se algum momento houvesse algum excesso ou algum tipo de extrapolação de suas designações, outro Poder estaria apto a intervir para buscar o equilíbrio. De forma simplista temos: o Poder Executivo, que deveria garantir que a vontade da coletividade fosse aplicada, gerenciando o Estado, assim como as leis serem executadas devidamente. O Poder Judiciário teria como função julgar com base nos princípios das leis que rege o Estado. Por fim, tem-se o Poder Legislativo, que teria como essência a criação de novas leis e serem a voz do povo e de seus anseios, já que as leis deviam refletir a realidade da população. É importante frisar que ao mesmo tempo que um Poder tem sua função principal, há a função secundária de fiscalizar o outro Poder. Outra característica a ser frisada é que os Poderes seriam regulados pela Constituição Democrática, feita e amparada pelo poder popular. Nas teorias políticas sugeria que os grandes países deveriam adotar o despotismo esclarecido (é importante lembrar que Montesquieu viveu durante a época do Iluminismo, assim como Rousseau); os médios, a monarquia constitucional ; os pequenos, a república. Assim como Voltaire, ele não defendia a população mais pobre. Na verdade, esses pensadores (iluministas) defendiam somente os interesses da nova classe social da época que despontava como revolucionária: a burguesia liberal.

Voltaire: conhecido como defensor da liberdade individual, considerando bárbaras todas as restrições à liberdade de expressão e de opinião, tendo expressado tal indignação em uma famosa frase: "Não concordo com uma única palavra do que dizei, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-lo". Defendia a liberdade de religião e de pensamento, bem como a igualdade perante a lei. Ele não defendia o direito das camadas populares por achar que eram inferiores. Julgava que os países atrasadas veriam ter um governo absolutista esclarecido e os avançados, um governo republicano e liberal.

Platão: A principal obra de Platão é "A República", onde a justiça é definida como um princípio segundo o qual a cidade opera com cada cidadão se ocupando de uma tarefa, aquela para a qual é mais bem dotado por natureza. Ou seja, a justiça é um princípio ordenador que garante para cada cidadão a sua melhor posição na cidade permitindo todos os indivíduos se desenvolverem de acordo com a sua natureza. A grande dificuldade dessa definição platônica de justiça está em descobrir o que
é natureza, qual a natureza de cada indivíduo, e como cada indivíduo se desenvolve em conformidade com ela. Não será por motivo distinto que o filósofo irá elaborar na República uma explicação sobre a dialética, ou seja, sobre o método através do qual conhecemos as coisas, inclusive a natureza. A ciência política em Platão é, em última instância, uma ciência da natureza. A maior parte do pensamento platônico nos foi transmitida por intermédio da fala de Sócrates, nos diálogos socráticos, escritos por ele mesmo, Platão. Um dos aspectos mais importantes da filosofia de Platão é sua teoria das ideias, com a qual procura explicar  como se desenvolve o conhecimento humano. Segundo ele, o processo de conhecimento se desenvolve por meio da passagem progressiva do mundo das sombras e aparências para o mundo das ideias e essências. Para Platão, somente os filósofos, eternos amantes da verdade, teriam condições de libertar-se da caverna das ilusões e atingir o mundo luminoso da realidade e sabedoria. Por isso, no seu livro A república, imaginou uma sociedade ideal, governada por reis-filósofos. Seriam pessoas capazes de atingir o mais alto conhecimento do mundo das ideias, que consiste na ideia do bem.

O MÉTODO DIALÉTICO 
A primeira etapa do processo de conhecimento é dominada pelas impressões ou sensações advindas dos sentidos. Essas impressões sensíveis são responsáveis pela opinião que temos da realidade. A opinião representa o saber que temos sem tê-lo procurado metodicamente. O conhecimento, entretanto, para ser autêntico, deve ultrapassar a esfera das impressões sensoriais, o plano da opinião, e penetrar na esfera racional da sabedoria, o mundo das idéias. Para atingir esse mundo, o homem não pode ter apenas "amor às opiniões" (filodoxia); precisa possuir um "amor ao saber" (filosofia). O método proposto por Platão para atingir o conhecimento autêntico (epistéme) é a dialética, que consiste na contraposição de uma opinião com a crítica que dela podemos fazer, ou seja, na afirmação de uma tese qualquer seguida de uma discussão e negação desta tese, com o objetivo de purificá-la dos erros e equívocos.
Somente quando saímos do mundo sensível e atingimos o mundo racional das idéias é que alcançamos também o domínio do ser absoluto, eterno e imutável. Nesse mundo das idéias só podemos entrar, segundo Platão, através do conhecimento racional, científico ou filosófico.
Fora do mundo das idéias, tudo o que captamos através dos nossos sentidos possui apenas uma parte do ser ideal. O mundo sensível, portanto, é um mundo de seres incompletos e imperfeitos.
A teoria das idéias de Platão representa a tentativa de conciliar as duas grandes tendências anteriores da filosofia grega: a concepção do ser eterno e imutável de Parmênides e a concepção do ser plural e móvel de Heráclito. Para Platão, o ser eterno e universal habita o mundo da luz racional, da essência e da realidade pura. E os seres individuais e mutáveis moram no mundo das sombras e sensações das aparências e ilusões.



Friedrich Nietzsche: Considerado um dos filósofos mais críticas, não são poucas as principais abordagens de Nietzsche. Em sua filosofia, é fundamental entender  a crítica que ele faz à metafísica. Essa crítica é a inauguração de uma nova forma de pensar sem metafísica através do método genealógico. O método genealógico de Nietzsche impõe em última instância que nada é sagrado, isto é, nada é separado deste mundo e tudo possui uma origem artificial e artificiosa. Desse modo, não há maneira de afirmar nenhuma espécie de transcendental; tudo possui uma origem imanente e se afirma a si mesmo. A genealogia expõe essas origens e desmascara os dogmatismos disfarçados de verdade última que desvela a realidade do mundo.

Conceitos Apolíneos e Dionisíacos.
Nietzsche recorre a mitologia grega para caracterizar a arte trágica na Grécia. Sendo assim, Dionísio representa a embriaguez, os instintos, o comportamento desmedido e as ações motivadas pela emoção. Apolo representa a sobriedade, a ordem, o equilíbrio, a harmonia e a razão. Estas forças representam antagonicamente a tensão artística sendo que ambas se complementam e não existem por si só, mas somente em conjunto. Desta maneira, a arte é composta pela tensão entre estas forças. O filósofo analise em seus trabalhos a forma pela qual a sociedade tendeu a supervalorizar apenas uma vertente, isto é, apenas os aspectos apolíneos, em detrimento dos dionisíacos. Nietzsche não propõe que deva inverter as ordens e sim que haja um equilíbrio. Segundo ele, o ser humano não pode alcançar a felicidade justamente por estar preso em dogmatismos e uma exacerbada racionalidade, porém, a felicidade humana necessita, para existir, a irracionalidade dionisíaca, a emoção e os instintos. Embora que, por pregar conceitos extremamentos metafísicos, a religião parece "irracional" a alguns, Nietzsche acredita que os princípios que regem a moral e a religião cristã, em evidência, seguem preceitos apolíneos, fazendo com que os instintos dos homens sejam contidos, dessa forma, o filósofo alemão prega uma inversão nos valores cristãos. O "bem" seria o correspondente a afirmação do instinto, sendo justamente aquilo que a religião reprimia.
Além disso, para o pensador, a filosofia é representada pela figura de Apolo enquanto que a arte é representada pela figura de Dionísio. Desta maneira, o conhecimento filosófico representa uma atividade pautada pela uso da razão, já a atividade artística é pautado pelo uso dos instintos e emoção.
Uma prova, segundo Nietzsche, que a filosofia é regida pela razão é o próprio surgimento dela entre os gregos, onde é caracterizado, segundo o filósofo alemão, pela necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira das coisas existentes.

Filosofia do Martelo
“A Filosofia a golpes de martelo” é o subtítulo que Nietzsche dá à sua obra Crepúsculo dos ídolos. Tais golpes são dirigidos, em particular, aos conceitos de razão e moralidade preponderantes nas doutrinas filosóficas dos vários pensadores que o antecederam e seus compatriotas e/ou contemporâneos Kant, Hegel e Schopenhauer.
Dentre os filósofos que o antecedem, Nietzsche possui uma crítica muito forte ao ponto de partida do pensamento racionalista promulgado por Sócrates e perpetuado por Platão. O filósofo alemão tem inúmeras ressalvas ao estilo grego, às idealizações, à primazia da ideia do “bom”, àquilo que ele chama de falta de coragem ante a realidade. Não somente possuía ferrenhas críticas, mas também a toda cultura ocidental, porém, o que motivou a crítica de Nietzsche à cultura ocidental a partir de Sócrates foi o fato de Sócrates ter negado a intuição criadora da filosofia anterior, pré-socrática.
Essa profunda crítica à cultura e a filosofia moderna é acompanhada pelo niilismo de Nietzsche.

Os Quatros Erros
Os quatro grandes erros para Nietzsche representam erros que corrompem a razão, a ponto de incutirem nos homens o espírito servil imerso em uma realidade distorcida e opressora que não permite a esses homens a emancipação de seus atos. O livre-arbítrio é criticado por Nietzsche como uma forma de tornar os homens culpados diante da humanidade. Ao declarar que os homens são livres, as forças coercitivas, como o poder da Igreja, agem com o claro intuito de castigá-los, julgá-los e declará-los culpados.  Tal preceito também está relacionado com a soberania do indivíduo, onde Nietzsche diz que o indivíduo soberano deve livrar-se da moralidade, das coerções sociais. Um indivíduo assim se move de acordo com o seu instinto e sua natureza; ele não se submete à consciência que reprime seus impulsos desiderativos. O soberano se livra da consciência destruindo sua memória e alcança a liberdade através do esquecimento. Com marteladas, a ética pode ser fundada com o esquecimento do moralismo.
Nietzsche declara que “a moral e a religião pertencem inteiramente à psicologia do erro”, ele pretendeu denunciar o erro que tanto a moral quanto a religião cometem ao confundir “causa com efeito, ou a verdade com o efeito do que se considera como verdade”.  O erro da confusão de causa e consequência está em toda tese formulada pela moral e pela religião, quer dizer, a razão doente considera erroneamente que o procedente está antes do precedente, por exemplo, a causa da felicidade é a vida virtuosa – diz a moral e a religião –, quando, ao contrário, a felicidade mesma é quem permite o sujeito agir virtuosamente.


Sócrates: nascido em Atenas, Sócrates (469 - 399 a.C.) é tradicionalmente considerado e um marco divisório da história da filosofia grega. Por isso, os filósofos que o antecederam são chamados de pré-socráticos e os que o sucederam, de pós-socráticos. O próprio Sócrates, porém, não deixou nada escrito, e o que se sabe dele e de seu pensamento vem dos textos de seus discípulos e de seus adversários.
O estilo de vida de Sócrates assemelhava-se, exteriormente, ao dos sofistas, embora não "vendesse" seus ensinamentos. Desenvolvia o saber filosófico em praças públicas, conversando com os jovens, sempre dando demonstrações de que era preciso unir a vida concreta ao pensamento. Unir o saber ao fazer, a consciência intelectual à consciência prática ou moral. Tanto quanto os sofístas, Sócrates abandonou a preocupação dos filósofos présocráticos em explicar a natureza e se concentrou na problemática do homem. No entanto, contrariamente aos sofistas, Sócrates opunha-se, por exemplo, ao relativismo em relação à questão da moralidade e ao uso da retórica para atingir interesses particulares. Embora tenha sido, em sua época, confundido com os sofistas, Sócrates travou uma polémica profunda com estes, pois procurava um fundamento último para as interrogações humanas (O que é o bem? O que é a virtude? O que é a justiça?), enquanto os sofistas situavam as suas reflexões a partir dos dados empíricos, o sensório imediato, sem se preocupar com a investigação de uma essência da virtude, da justiça, do bem etc., a partir da qual a própria realidade empírica pudesse ser avaliada. A pergunta essencial que Sócrates tentava responder era: o que é a essência do homem? Ele respondia dizendo que o homem é a sua alma, entendendo-se "alma", aqui, como a sede da razão, o nosso eu consciente, que inclui a consciência intelectual e a consciência moral, e que, portanto, distingue o ser humano de todos os outros seres da natureza. Por isso, autoconhecimento era um dos pontos fundamentais da filosofia socrática. "Conhece-te a ti mesmo", frase inscrita no Oráculo de Delfos, era a recomendação básica feita por Sócrates a seus discípulos. Sua filosofia era desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores. Esses diálogos podem ser divididos em dois momentos básicos: a ironia e a maiêutica.

A IRONIA 
Na linguagem cotidiana, a ironia tem um significado depreciativo, sarcástico ou de zombaria. Mas não é esse o sentido da ironia socrática. No grego, ironia quer dizer "interrogação". De fato, Sócrates interrogava seus interlocutores sobre aquilo que pensavam saber. O que é o bem? O que é a justiça? E a coragem? E a piedade? São exemplos de algumas perguntas feitas por ele. No decorrer do diálogo, atacava de modo implacável as respostas de seus interlocutores. Com habilidade de raciocínio, procurava evidenciar as contradições afirmadas, os novos problemas que surgiam a cada resposta. Seu objetivo inicial era demolir, nos discípulos, o orgulho, a arrogância e a presunção do saber. A primeira virtude do sábio é adquirir consciência da própria ignorância. "Sei que nada sei", dizia Sócrates. A ironia socrática tinha um caráter purificador porque levava os discípulos a confessarem suas próprias contradições e ignorâncias, onde antes só julgavam possuir certezas e clarividências. Nesta fase do diálogo, a intenção fundamental de Sócrates não era propriamente destruir o conteúdo das respostas dadas pelos interlocutores, mas fazê-los tomar consciência profunda de suas próprias respostas, das consequências que poderiam ser tiradas de suas reflexões, muitas vezes repletas de conceitos vagos e imprecisos.

A MAIÊUTICA 
Libertos do orgulho e da pretensão de que tudo sabiam, os discípulos podiam então iniciar o caminho da reconstrução de suas próprias idéias. Novamente, Sócrates lhes propunha uma série de questões habilmente colocadas. Nesta segunda fase do diálogo, o objetivo de Sócrates era ajudar seus discípulos a conceberem suas próprias idéias. Assim, transportava para o campo da filosofia o exemplo de sua mãe, Fenareta, que, sendo parteira, ajudava a trazer crianças ao mundo. Por isso, essa face do diálogo socrático, destinada à concepção de idéias, era chamada de maiêutica, termo grego que significa "arte de trazer à luz".

Os primeiros filósofos: Os pré-socráticos de Mileto

Tales de Mileto: procurando fugir das antigas explicações mitológicas sobre a criação do mundo. Tales queria descobrir um elemento físico que fosse constante em todas as coisas. Algo que fosse o princípio unificador de todos os seres. Inspirando-se provavelmente em concepções egípcias, acrescidas de suas próprias observações da vida animal e vegetal, concluiu que a água é a substância primordial, a origem única de todas as coisas. Para ele, somente a água permanece basicamente a mesma, em todas as transformações dos corpos, apesar de assumir diferentes estados — sólido, líquido e gasoso.

Anaximandro de Mileto: procurou aprofundar as concepções de Tales sobre a origem única de todas as coisas. Em meio a tantos elementos observáveis no mundo natural — a água, o fogo, o ar etc. —, ele acreditava não ser possível eleger uma única substância material como o princípio primordial de todos os seres, a arché.  Para Anaximandro, esse princípio é algo que transcende os limites do observável, ou seja, não se situa numa realidade ao alcance dos sentidos. Por isso, denominou-o ápeiron, termo grego que significa "o indeterminado", "o infinito". O ápeiron seria a "massa geradora" dos seres, contendo em si todos os elementos contrários.

Anaxímenes de Mileto: Anaxímenes admitia que a origem de todas as coisas é indeterminada. Entretanto, recusava-se a atribuir-lhe o caráter oculto de elemento situado fora dos limites da observação e da experiência sensível. Tentando uma possível conciliação entre as concepções de Tales e as de Anaximandro, concluiu ser o ar o princípio de todas as coisas. Isso porque o ar representa um elemento "invisível e imponderável , quase inobservável e, no entanto, observável: o ar é a própria vida, a força vital, a divindade que "anima" o mundo, aquilo que dá testemunho à respiração.

Outros pré-socráticos:
Pitágoras de Samos: Para Pitágoras a essência de todas as coisas reside nos números, os quais representam a ordem e a harmonia. Assim, a essência dos seres, a arché, teria uma estrutura matemática da qual derivariam problemas como: finito e infinito, par e ímpar, unidade e multiplicidade, reta e curva, círculo e quadrado etc. Pitágoras dizia que no "fundo de todas as coisas" a diferença entre os seres consiste, essencialmente, em uma questão de números (limite e ordem das coisas).

Heráclito de Éfeso: Heráclito é considerado o primeiro grande representante do pensamento dialético. Concebia a realidade do mundo como algo dinâmico, em permanente transformação. Daí sua escola filosófica ser chamada de mobilista (de movimento). Para ele, a vida era um fluxo constante, impulsionado pela luta de forças contrárias: a ordem e a desordem, o bem e o mal, o belo e o feio, a construção e a destruição, a justiça e a injustiça, o racional e o irracional, a alegria e a tristeza etc. Assim, afirmava que "a luta (guerra) é a mãe, rainha e princípio de todas as coisas". É pela luta das forças opostas que o mundo se modifica e evolui.
Atribuem-se a Heráclito frases marcantes, de sentido simbólico, utilizadas para ilustrar sua concepção sobre o fluxo e a movimentação das coisas, o constante vir-a-ser, a eterna mudança, também chamada devir. É de sua suposta autoria a célebre frase: "Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, pois suas águas se renovam a cada instante. Não tocamos duas vezes o mesmo ser, pois este modifica continuamente sua condição".  Assim, Heráclito imaginava a realidade dinâmica do mundo sob a forma de fogo, com chamas vivas e eternas.

Parmênides de Eléia: Segundo Parmênides, o caminho da essência nos leva a concluir que na realidade:
a) existe o ser, e não é concebível sua não existência;
b) o ser é o não-ser não é.
Em vista disso, Parmênides é considerado o primeiro filósofo a formular os princípios lógicos de identidade e de não-contradição, desenvolvidos depois por Aristóteles.
Ao refletir sobre o ser, pela via da essência, o filósofo eleático concluiu que o ser é eterno, único, imóvel e ilimitado. Essa seria a via da verdade pura, a via a ser buscada pela ciência e pela filosofia. Por outro lado, quando a realidade é pensada pelo caminho da aparência, tudo se confunde em função do movimento, da pluralidade e do devir (vir-a-ser).
Assim, na concepção de Parmênides, Heráclito teria percorrido o caminho das aparências ilusórias. Essa via precisava ser evitada para não termos de concluir que "o ser e o não-ser são e não são a mesma coisa". Parmênides teria descoberto, assim, os atributos do ser puro: o ser ideal do plano lógico. E negou-se a reconhecer como verdadeiros os testemunhos ilusórios dos sentidos e a constatar a existência do ser-no-mundo: o ser que se exprime de diversos modos, os seres múltiplos e mutáveis. Mas o filósofo sabia que é no mundo da ilusão, das aparências e das sensações que os homens vivem seu cotidiano. Então, "o mundo da ilusão não é uma ilusão de mundo", mas uma manifestação da realidade que cabe à razão interpretar, explicar e compreender, até que alcance a essência dessa realidade. Não podemos confiar nas aparências, nas incoerências, na visão enganadora. Pela razão, devemos buscar a essência, a coerência e a verdade.

OBS: a publicação estará em constante modificação e acréscimo de mais filósofos.

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