Globalização


A globalização é o atual momento da expansão capitalista. Pode-se afirmar que ela está para o capitalismo informacional assim como o colonialismo esteve para a sua etapa comercial ou o imperialismo, no final da fase industrial e início da financeira. Trata-se de uma expansão que visa aumentar os mercados e, portanto, o lucro, o que de fato faz ela mover os capitais, tanto produtivos quanto especulativos, no mercado mundial. Esta é a razão de, com o processo de globalização, haver disseminado, com base no governo norte-americano (além do britânico) e em suas instituições por ele controladas, como FMI e o Banco Mundial, o neoliberalismo – que se contrapõe ao keynesianismo. O neoliberalismo tem objetivo de reduzir as barreiras aos fluxos globais, o que beneficia notadamente os países desenvolvidos e suas corporações multinacionais, embora alguns países emergentes, como a China, os Tigres Asiáticos, o México e o Brasil, tenham recebido investimentos produtivos e ampliando seu comércio mundial. Por esse motivo, os países em desenvolvimento têm sido pressionados, até para poderem obter novos empréstimos internacionais do FMI, adotar medidas como redução no papel do Estado na produção com a privatização de empresas estatais, abertura do mercado a produtos importados e flexibilização da legislação trabalhista. Deve ser mencionado, no entanto, que, mesmo em países desenvolvidos, as políticas neoliberais têm imposto perdas aos trabalhadores, com reformas previdenciárias e cortes nos gastos sociais, por exemplo.      

Fases da Globalização:
Primeira fase – 1450-1850: Expansionismo mercantilista 
A primeira globalização, resultado da procura de uma rota marítima para as Índias, assegurou o estabelecimento das primeiras feitorias comerciais europeias na Índia, China e Japão, e abriu aos conquistadores europeus as terras do Novo Mundo. Enquanto as especiarias eram embarcadas para os portos, milhares de imigrantes iberos, ingleses e holandeses, e, um número bem menor de franceses, atravessaram o Atlântico para vir ocupar a América. Formaram colônias de exploração, no sul da América do Norte, no Caribe e no Brasil, baseadas geralmente em um só produto (açúcar, tabaco, café, minério, etc.) utilizando-se de mão-de-obra escrava vinda da África ou mesmo indígena. Para atender as primeiras, as colônias de exploração, é que o brutal tráfico negreiro tornou-se rotina. Igualmente não se deve omitir que ela promoveu uma espantosa expropriação das terras indígenas e ou na destruição da sua cultura. Nesta primeira fase estrutura-se um sólido comércio triangular entre a Europa (fornecedora de manufaturas) África (que vende seus escravos) e América (que exporta produtos coloniais). Politicamente, a primeira fase da globalização se fez quase toda ela sob a proteção das monarquias absolutistas que concentram enorme poder e mobilizam os recursos econômicos, militares e burocráticos, para manterem e expandirem seus impérios coloniais. A doutrina econômica da 1ª fase foi o mercantilismo, adotado pela maioria das monarquias europeias para estimular o desenvolvimento da economia dos reinos. Esta política levou cada reino europeu a terminarem transformando-se em um império comercial, tendo colônias e feitorias espalhadas pelo mundo. (Artigo relacionado: Absolutismo e Mercantilismo)

Segunda fase – 1850-1950: Industrial-imperialista 
A segunda fase da globalização se caracteriza pelo processo de expansão da atividade industrial clássica. Nesse período, ocorre em alguns um forte processo de industrialização baseado na primeira Revolução Industrial que teve início no século XVIII, na Inglaterra, com a mecanização dos sistemas de produção. As burguesias industriais, em busca de maiores lucros, menores custos e produção acelerada, buscaram alternativas para melhorar a produção de mercadorias. Também pode-se apontar o crescimento populacional que trouxe maior demanda de produtos e mercadorias. 
Avanços da Tecnologia: o século XVIII foi marcado pelo grande salto tecnológico nos transportes e máquinas. A máquina a vapor, principalmente os gigantes teares, revolucionou o modo de produzir. Se por um lado à máquina substituiu o homem, gerando milhares de desempregados, por outro baixou o preço de mercadorias e acelerou o ritmo de produção. Na área de transportes, pode-se destacar a invenção das locomotivas a vapor e os navios a vapor. Com estes meios de transportes, foi possível transportar mais mercadorias e pessoas, em um tempo mais curto e com custos mais baixos. A Revolução tornou os métodos de produção mais eficientes. Os produtos passaram a ser produzido mais rapidamente, barateando o preço e estimulando o consumo. Por outro lado, aumentou as desigualdades entre os países do mundo todo, ampliando a disputa entre os países industrializados por áreas fornecedoras de matéria-prima e mercados consumidores (Divisão Internacional do Trabalho). Enraíza-se a visão imperialista-colonialista que no início do século XX levará o mundo a duas grandes guerras. (Artigos relacionados: Primeira Revolução Industrial e Segunda Revolução Industrial)

Globalização Recente – Pós 1989: Cibernética - tecnológica
A globalização recente é caracterizada pela revolução tecno-científica e a integração do mundo. A rápida evolução e a popularização das tecnologias da informação (computadores, telefones e televisão) têm sido fundamentais para agilizar a produção industrial, o comércio e as transações financeiras entre os países. Tudo isso permite uma integração mundial sem precedentes. Vale destacar como forte novidade na área de tecnologia, e instrumento de integração entre as nações, a Internet. Esta que já está presente nos principais países do mundo e que representa um novo ramo de mercado, o mercado virtual. Este é caracterizado por ser de alto risco e de certa forma abstrata, sendo valorizado por seu valor virtual. Como fonte de divulgação de cultura e informações diversas, a Internet é a maravilha do século XXI, pois nunca a humanidade foi tão capaz e bem servida de informações como hoje em dia. (Artigo relacionado: Terceira Revolução Industrial)

Fluxos de informações      
A Internet aumentou as possibilidades de acesso aos serviços (como troca de e-mails, pesquisas em bancos de dados e compra de produtos) e às informações, mudando até mesmo as concepções de tempo e espaço. Um espaço virtual se abre aos internautas (pessoas conectadas a rede) em tempo real.
Entretanto ainda são poucos os que têm acesso às informações disponíveis na rede, onde a maioria dos internautas está fortemente concentrada em países desenvolvidos e em alguns países emergentes.
Fluxos de capitais especulativos  
Outra invasão típica da globalização é a dos capitais especulativos de curto prazo, conhecidos como smart money (“dinheiro esperto”) ou hot money  (“dinheiro quente”), que, ávidos por lucratividade, movimentam-se com grande rapidez pelo sistema financeiro on-line.  Não se sabe ao certo o montante, mas estima-se que o fluxo mundial de capitais especulativos seja 1,5 trilhões de dólares por dia, investidos nas várias modalidades de especulação financeira. Essa vultosa soma – que, em geral, pertence a milhões de pequenos poupadores espalhados pelos países desenvolvidos, os quais deixam seus recursos em um banco ou os investem em um fundo de pensão, para garantir suas aposentadorias – é transferida de um mercado para outro, de um país para outro, sempre em busca das mais altas taxas de juros ou de maior segurança. Os administradores desses capitais – como bancos de investimentos, corretoras, fundo de pensão etc. – em sua maioria não estão interessados em investir na produção, cujo retorno é demorado, mas em especular: realizar investimentos de curto prazo nos mercados mais rentáveis. Os fundos de pensão, entretanto, também investem na produção.  Quando algum mercado se torna instável ou menos atraente aos investidores, como aconteceu com o México em meados da década de 1990, com países do Sudeste Asiático em 1997, com o Brasil no início de 1999, ou com a Argentina em 21, esses capitais são rapidamente transferidos, e os países entram em crise financeira.

Fluxos de capitais produtivos 
A entrada dos capitais produtivos é a mais demorada porque são investimentos de longo prazo, por isso menos suscetíveis às oscilações repentinas do mercado. Esses capitais são aplicados em um território em busca de lucros, que podem ser resultantes de custo menores de produção, baixos custos dos transportes ou dos fretes, proximidade dos mercados consumidores e facilidades em driblar barreiras protecionistas. Todos esses fatores permitem a expansão dos mercados para capitais, gerando, portanto, maiores lucros.
Há outra faceta, mais visível e mais antiga da globalização, que é a “invasão” de mercadorias em quase todos os países. Com a intensificação dos fluxos comerciais no mundo, produtos são transportados por enormes navios, trens, caminhões e aviões, que circulam por uma moderna e intrincada rede que cobre as grandes extensões da superfície terrestre, sobretudo nos países desenvolvidos e emergentes. Há, assim, uma globalização do consumo, com a intensificação do comércio, resultante da globalização da produção.

A expansão de multinacionais  
Superada a destruição provocada pela Segunda Guerra, a economia mundial voltou a crescer em um ritmo mais acelerado. Dentro desse quadro de grande prosperidade, as empresas dos países industrializados assumiram proporções ainda maiores que na época dos trustes. Tornaram-se grandes conglomerados e se expandiram pelo mundo, ultrapassando as fronteiras dos países em que se desenvolveram, nos quais estão as matrizes. Transformaram-se em empresas multinacionais e  encarregaram-se de globalizar, gradativamente, não somente a produção, mas também o consumo.
Construíram filiais em vários países, principalmente nos subdesenvolvidos, que, ao se industrializarem, passaram a serem chamados países emergentes, modificando a tradicional divisão do trabalho. Essas empresas desenvolveram-se no final do século XIX e no início do século XX nos países industrializados. Hoje, dado seu elevado grau de internacionalização, são conhecidas como multinacionais e são as principais responsáveis pela mundialização dos capitais produtivos. Embora não se conheça exatamente o volume dos capitais especulativos que circulam diariamente pelo sistema financeiro mundial, sabe-se o montante de capitais produtivos. Contudo tanto estes quanto aqueles concentravam-se em poucos lugares no mundo – mais uma evidência de que os fluxos da globalização atingem desigualmente o espaço geográfico mundial. A maior parte dos capitais é investida em apenas alguns países.  
Paralelamente a globalização da produção e do consumo, ocorre a intensificação do fluxo de viajantes pelo mundo (a negócio, a turismo ou imigrando) acompanhada de uma “invasão” cultural, constituída pelo menos em sua forma hegemônica, de uma cultura de massas que se originam, sobretudo nos Estados Unidos, a nação mais poderosa e influente no planeta. O "American way of life" (o “modo norte-americano de vida”) é difundido, por exemplo, pelos filmes de Hollywood e pelas séries produzidas por estúdios cinematográficos ou canais de televisão pelas notícias da CNN (Cable News Network, principal rede de notícias norte-americana sediada em Atlanta), pelas cadeias de fast-food, como a McDonald’s. 

Fragmentação
Segundo os cientistas, o momento que se vive hoje não encontra paralelo na história da humanidade, o principal eixo do mundo atual emerge exatamente dos avanços tecnológicos especialmente nos setores de comunicação e de transporte e eis porque a globalização está fortemente relacionada à noção de espaço-tempo. 
Paralelamente ao processo de globalização estabelece-se o processo de fragmentação.      
O processo de fragmentação surge paralelamente ao processo de globalização, da mesma forma que a globalização se manifesta de várias maneiras, a fragmentação se revela especialmente nos lugares e quase sempre é lida como consequência do próprio modo de produção capitalista. 
A natureza excludente do capitalismo foi acentuada a partir da globalização, pois o movimento é delineado especialmente pelo avanço dos fluxos de capitais dentro desse quadro financeiro e tecnológico; nações inteiras são excluídas desse processo. 
A marginalização socioeconômica desses povos desencadeia impressionantes movimentos migratórios no sentido sul-norte; esses fluxos tendem a acentuar a fragmentação cultural, ou seja, o rompimento com o lugar de origem, com a sua paisagem, a família, os amigos.
No início da década de 90, os processos de fragmentação de territórios se intensificaram especialmente no leste da Europa, foram surgindo países, as fronteiras tiveram uma significativa alteração tanto em resposta as mudanças econômicas quanto por questões políticas e étnicas. O fim da URSS, por exemplo, gerou o surgimento de 15 novos países euroasiáticos. 
Além das mudanças na ex-URSS, outros territórios foram alterados como, por exemplo, a ex-Iugoslávia e a ex-Tchecoslováquia, cujo fim da era socialista foi marcado também pelo processo de desintegração em resposta a reivindicações de etnias. 
Quando a globalização se instala, ela nada mais é do que um resultado do avanço do modo de produção capitalista, por isso é necessário que se atente em observar que seus desdobramentos de alguma forma representarão as mudanças e que essas se traduziram em avanço e agravamento das diferenças. Enquanto o processo de globalização remete a certa homogeneização, a fragmentação é exatamente o resultado da diferença produzida pela própria aceleração do capital.
A ameaça da globalização se transforma em resistência nos lugares, por isso tantos movimentos sociais e o recrudescimento dos movimentos separatistas. A ciência reconhece, a globalização tende a uma homogeneização do comportamento e como tal de aumento do consumo, dentro desse processo é comum que as empresas transnacionais interfiram nos países pressionando por mercados consumidores. A exclusão social se amplia a resistência dos grupos sociais também, com isso torna-se mais comum os movimentos de retorno às raízes, o sentido de lugar, uma das mais importantes categorias de análise da Geografia, ganha espaço.
 

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