Conceitos Históricos da Evolução
Evolução
A teoria da evolução constituiu,
desde os primeiros momentos de sua gênese, uma candente fonte de
controvérsia, não somente no campo científico, como também na
área ideológica e religiosa.
A teoria da evolução, também
chamada evolucionismo, afirma que as espécies animais e vegetais
existentes na Terra não são imutáveis, mas sofrem ao longo das
gerações uma modificação gradual, que inclui a formação de
raças e espécies novas.
História
Até o século XVIII, o mundo
ocidental aceitava a doutrina do criacionismo, segundo a qual cada
espécie, animal ou vegetal, tinha sido criada independentemente, por
ato divino.
O pesquisador francês Jean-Baptiste
Lamarck foi dos primeiros a negar esse postulado e a propor um
mecanismo pelo qual a evolução se teria verificado. A partir da
observação de que fatores ambientais podem modificar certas
características dos indivíduos.
Assim, o mecanismo de formação de
uma nova espécie seria, em linhas gerais, o seguinte: alguns
indivíduos de uma espécie ancestral passavam a viver num ambiente
diferente; o novo ambiente criava necessidades que antes não
existiam, as quais o organismo satisfazia desenvolvendo novas
características hereditárias; os portadores dessas características
passavam a formar uma nova espécie, diferente da primeira.
Estudos posteriores demonstraram que
apenas o primeiro postulado do lamarckismo estava correto; de fato, o
ambiente provoca no indivíduo modificações adaptativas; mas os
caracteres assim adquiridos não se transmitem à prole.
Darwin partiu da observação segundo
a qual, dentro de uma espécie, os indivíduos diferem uns dos
outros. Há, portanto, na luta pela existência, uma competição
entre indivíduos de capacidades diversas. Os mais bem adaptados são
os que deixam maior número de descendentes.
Se a prole herda os caracteres
vantajosos, os indivíduos bem dotados vão predominando nas gerações
sucessivas, enquanto os tipos inferiores se vão extinguindo. Assim,
por efeito da seleção natural, a espécie aperfeiçoa-se
gradualmente. Entretanto, o sentido em que age a seleção natural é
determinado pelo ambiente, pois um caráter que é vantajoso em um
ambiente pode ser inconveniente em outro.
O darwinismo estava fundamentalmente
correto, mas teve de ser complementado e, em alguns aspectos,
corrigido pelos evolucionistas do século XX para que se
transformasse na sólida doutrina evolucionista de hoje. As idéias
de Darwin e seus contemporâneos sobre a origem das diferenças
individuais eram confusas ou erradas. Predominava o conceito
lamarckista de que o ambiente faz surgir nos indivíduos novos
caracteres adaptativos, que se tornam hereditários.
Um dos primeiros a abordar
experimentalmente a questão foi o biólogo alemão August Weismann,
ainda no século XIX. Tendo cortado, por várias gerações, os rabos
de camundongos que usava como reprodutores, mostrou que nem por isso
os descendentes passavam a nascer com rabos menores. Weismann
estabeleceu também a distinção fundamental entre células
germinais e células somáticas.
Nas espécies de reprodução sexuada,
todas as células de um indivíduo provêm da célula inicial única
que lhe deu origem. No entanto, durante o desenvolvimento
diferenciam-se no corpo duas partes, com destinos biológicos
diversos. As células reprodutivas (gametas) transmitem aos
descendentes as características dos ancestrais. As células
somáticas, que constituem o resto do corpo, não passam à prole:
morrem com o indivíduo, o que explica por que as modificações
produzidas nas células somáticas pelo ambiente não passam à
prole.
Complementando as ideias de Weismann,
em 1909 o geneticista dinamarquês Wilhelm Ludvig Johannsen
demonstrou que a variabilidade dos indivíduos dentro de uma espécie
é, em parte, produzida por diferenças nos genes que os indivíduos
possuem e, em parte, por influência do meio. O fenótipo, ou aspecto
do indivíduo, resulta da ação do genótipo, modificada por fatores
ambientais. Só o genótipo, ou conjunto de genes, passa para a
prole. Se o ambiente varia, o indivíduo passa a ter um fenótipo
diferente, sem que o genótipo se altere. O caráter adquirido em
resultado da adaptação individual não passa, portanto, à prole.
As variações hereditárias têm
origem diferente. Baseando-se em estudos feitos com a planta
denominada Oenothera lamarckiana, o botânico holandês Hugo de Vries
elaborou em 1901 a teoria das mutações. De vez em quando, os genes
sofrem modificações espontâneas, não relacionadas com a
influência do ambiente, e passam a determinar novos caracteres
hereditários. Essas mutações quase nunca são adaptativas;
entretanto, pode acontecer, por acaso, que uma delas venha a ser útil
a seu portador, em um determinado ambiente. Nesse caso, tal indivíduo
leva vantagem na competição com os demais e tem maior probabilidade
de deixar prole numerosa, a qual herdará o gene mutado.
O novo caráter vai, aos poucos, predominando, podendo mesmo vir a
substituir o antigo em uma população, dando início a uma variedade
que pode, por um mecanismo semelhante, transformar-se numa espécie
nova.
Se o gene que sofreu mutação
determina um caráter inconveniente, será eliminado por seleção
natural; mas se, por acaso, a mutação é benéfica, a frequência
do gene correspondente aumentará nas gerações sucessivas.
Outra fonte de variação hereditária,
ao lado das mutações, é a recombinação entre os genes.
Mecanismo da evolução
Preliminares - Caracteres novos e
hereditários podem surgir por mutação de um único gene, ou por
mutações cromossômicas, que resultam de vários acidentes que os
cromossomos sofrem, como perda ou duplicação de um pequeno
fragmento, inversão na posição de um pedaço, ou translocação de
um fragmento de um cromossomo para outro. Qualquer dessas anomalias
pode provocar uma alteração nos caracteres aparentes dos
organismos. Cada tipo de mutação ocorre com uma determinada
frequência.
As mutações que produzem
modificações extremamente pequenas, muito difíceis de serem
percebidas, são, porém, as mais importantes para a evolução das
espécies, pois têm maior probabilidade de dotarem seus portadores
com alguma vantagem. Como as espécies já estão, em geral, muito
bem adaptadas ao meio em que vivem, qualquer modificação radical
será quase fatalmente prejudicial.
Uma alteração do ambiente faz com
que certos tipos dentro de uma espécie passem a ser mais eficientes
do que outros e acabem por predominar. Se todos os indivíduos de uma
espécie fossem geneticamente idênticos, a seleção natural não
poderia agir; mas as mutações estão sempre produzindo novas
variações dentro das populações e, assim, promovem a
variabilidade necessária para que a seleção natural possa influir
na composição das populações, de acordo com as modificações do
ambiente.
Entretanto, nem todos os genes nocivos
vêm a ser eliminados pela seleção natural: os genes recessivos são
mantidos, em certa frequência, nos heterozigotos, que são
fenotipicamente normais e podem transmitir o gene à metade de seus
descendentes. Como os genes recessivos inconvenientes são muitos,
embora cada qual exista na população em baixa frequência, em
média, cada pessoa é heterozigota para alguns genes recessivos
prejudiciais.
Se o ambiente em que vive uma espécie
fosse constante ao longo das gerações, tal espécie iria
adaptando-se cada vez melhor a seu ambiente, pela substituição das
combinações gênicas menos favoráveis por outras mais adequadas.
Assim, a espécie evoluiria como um todo, sem se fragmentar em raças
e espécies novas. O mais comum, entretanto, é que a espécie viva
em diferentes micro-habitats, criados por alteração das condições
do meio em partes da zona ocupada, ou que a espécie se difunda por
regiões novas. Em ambos os casos, a seleção natural passa a atuar
em sentidos divergentes nos diferentes habitats, de modo que as
populações que neles vivem tendem a diversificar-se em raças
distintas.
Outro fator importante na modificação
genética das raças é a migração. Modificações na configuração
geográfica podem dar oportunidade a importantes movimentos
migratórios de plantas e animais.
Quando a densidade da população em
uma área atinge um nível alto, a sobrevivência fica difícil, os
indivíduos são impelidos para fora da zona e a distribuição
geográfica da espécie é ampliada. As regiões contíguas são
ocupadas, a menos que existam barreiras intransponíveis. O novo
ambiente conquistado pode ser diferente, de modo que a seleção
natural segue nele novos rumos e, se a comunicação com a população
inicial for difícil, a espécie pode dividir-se em duas.
Isolamento geográfico – populações
de alguma espécie relativamente isoladas, que podem evoluir
independentemente, até virem a formar espécies distintas.
Isolamento reprodutivo - mesmo que as
duas raças vivessem lado a lado, não poderiam trocar genes, pois os
híbridos são inviáveis. A
distribuição da espécie pela enorme área que ocupa determinou um
isolamento geográfico entre as populações mais distantes; ao mesmo
tempo, tais populações encontraram ambientes diferentes, que
fizeram com que seu patrimônio hereditário evoluísse em direções
diversas, sob a influência das mutações e da seleção natural.
Nas populações mais extremas, essa diferenciação atingiu um ponto
tal que a produção de híbridos viáveis tornou-se impossível.
Surgiu, então, em consequência do isolamento geográfico, um
isolamento reprodutivo total entre elas.
Origem das raças - As mutações, as
recombinações gênicas, a seleção natural, as diferenças de
ambiente, os movimentos migratórios e o isolamento, tanto geográfico
como reprodutivo, concorrem para alterar a frequência dos genes nas
populações e são, assim, os principais fatores da evolução.
Duas raças geograficamente isoladas
evoluem independentemente e se diversificam cada vez mais, até que
as diferenças nos órgãos reprodutores, ou nos instintos sexuais,
ou no número de cromossomos, sejam grandes a ponto de tornar o
cruzamento entre elas impossível ou, quando possível, produtor de
prole estéril. Com isso, as duas raças transformam-se em espécies
distintas, isto é, populações incapazes de trocar genes. Daí por
diante, mesmo que as barreiras venham a desaparecer e as espécies
passem a compartilhar o mesmo território, não haverá entre elas
cruzamentos viáveis. As duas espécies formarão, para sempre,
unidades biológicas estanques, de destinos evolutivos diferentes.
Se, entretanto, o isolamento
geográfico entre duas raças é precário e desaparece depois de
algum tempo, o cruzamento entre elas tende a obliterar a
diferenciação racial e elas se fundem em uma mesma espécie,
monotípica, porém muito variável. É o que está acontecendo com a
espécie humana, cujas raças se diferenciaram enquanto as barreiras
naturais eram muito difíceis de vencer e quase chegaram ao ponto de
formar espécies distintas; mas os meios de transporte, introduzidos
pela civilização, aperfeiçoaram-se antes que se estabelecessem
mecanismos de isolamento reprodutivo que tornassem o processo
irreversível. Os cruzamentos inter-raciais tornaram-se frequentes e
a humanidade está-se amalgamando numa espécie cada vez mais
homogênea, mas com grandes variações.
Populações que se intercruzam
amplamente apresentam pequenas diferenças genéticas, mas as
populações isoladas por longo tempo desenvolvem diferenças
consideráveis. Em teoria, raças são populações de uma mesma
espécie que diferem quanto à frequência de genes, mesmo que essas
diferenças sejam pequenas. A divisão da humanidade em determinado
número de raças é arbitrária; o importante é reconhecer que a
espécie humana, como as demais, está dividida em alguns grupos
raciais maiores que, por sua vez, se subdividem em raças menos
distintas, e a subdivisão continua até se chegar a populações que
quase não apresentam diferenças.
As subespécies representam o último
estádio evolutivo na diferenciação das raças, antes do
estabelecimento dos mecanismos de isolamento reprodutivo. São,
portanto, distinguíveis por apresentarem certas características em
frequência bem diferentes. Não se cruzam, por estarem separadas,
mas são capazes de produzir híbridos férteis, se colocadas juntas.
Isolamento Reprodutivo
A especiação se completa com o surgimento de isolamento
reprodutivo, que impede indivíduos de espécies diferentes de trocar
genes por cruzamento. Diversos mecanismos podem impedir essa troca de
isolamento reprodutivo. Estes podem atuar antes da formação do
zigoto, sendo por isso chamados de processos pré-zigoticos, ou
depois de o zigoto ter-se formado, sendo chamados de processos
pós-zigoticos.
Processos Pré-Zigoticos de Isolamento Reprodutivo: são processos
que impedem a fecundação.
Isolamento de Hábitat: os membros de duas espécies não se
cruzam pelo fato de viverem em hábitats diferentes. Um exemplo
ocorre entre leões e tigres, que podem se cruzar em cativeiro,
produzindo descendentes, em alguns casos férteis. Isso não ocorre
na natureza porque essas duas espécies vivem em habitats diferentes:
os leões vivem nas savanas e os tigres, nas florestas.
Isolamento sazonal ou estacional: cada espécie se adaptou a se
reproduzir em uma determinada fase do ano. Por exemplo, duas espécies
de aves que habitam uma mesma região podem não se cruzar por
apresentarem a reprodução em diferentes épocas do ano.
Isolamento comportamental ou etológico: os indivíduos não se
cruzam, porque a “dança” da corte de cada um deles é diferente.
Com isso, as fêmeas de uma espécie não reconhecem os sinais de
sedução dos machos de outra espécie.
Isolamento mecânico: Os órgãos sexuais dos machos e das fêmeas
de espécies diferentes não são compatíveis. Em vegetais, o tubo
polínico pode não germinar no órgão feminino de uma flor de outra
espécie.
Processos Pós-zigóticos de Isolamento Reprodutivo: são processos
relacionados ao que ocorre ao zigoto híbrido e o indivíduo que pode
vir a ser formado a partir dele.
Mortalidade do Zigoto: se ocorrer fecundação entre gametas de
espécies diferentes, o zigoto poderá ser pouco viável, morrendo
devido ao desenvolvimento embrionário irregular.
Inviabilidade do Híbrido: indivíduos resultantes do cruzamento
entre seres de espécies diferentes são chamados híbridos
interespecíficos. Embora possam a ser férteis, são inviáveis por
sua inferioridade adaptativa ou menor eficiência para a reprodução.
Esterilidade do Híbrido: a esterilidade do híbrido pode ocorrer
pela presença de gônadas anormais ou problemas decorrentes de
meiose anômala. É o caso da mula e do burro, híbridos estéreis
resultantes do cruzamento entre o jumento e a égua ou entre a
jumenta e o cavalo.
Deterioração dos descendentes: os filhos nascem e são
saudáveis. Mas, com o passar das gerações, tornam-se mais fracos e
estéreis. Assim, o isolamento reprodutivo total entre duas espécies
deve-se, em geral, a vários fatores, dentre os quais um pode ser
mais efetivo do que o outro.
Conceitos Evolutivos
- Estruturas análogas: Apresentam a mesma função, porém, possuem origem embrionária diferente.
- Estruturas homólogas: Apresentam funções diferentes, porém, possuem origem embrionária em comum.
- Convergência adaptativa: São indivíduos que apresentam características em comum pelo fato de viverem no mesmo ambiente, porém, são distantes evolutivamente.
- Irradiação adaptativa: São indivíduos próximos evolutivamente, porém, pelo fato de explorarem habitats diferentes, apresentam características muito distintas.
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