Fascismo Português
Em
1910, a monarquia foi derrubada em Portugal. Deu-se início, então,
à fase chamada de 1ª República, marcada por forte instabilidade
política e problemas econômicos - sobretudo durante a Primeira
Guerra Mundial.
Diante desse cenário, militares de tendência conservadora
promoveram um golpe de estado, em 1926, pondo fim à 1ª República.
Assim começou um novo momento da história portuguesa, caracterizado
por uma ditadura militar, que durou até 1933, ano de fundação do
Estado Novo.
Na
ditadura, em 1928, o professor universitário Antônio Salazar é
recrutado pelo governo militar para comandar o Ministério das
Finanças, de onde, pela sua política de contenção de gastos
públicos, redução de investimentos em áreas de base e aumento de
impostos, a economia portuguesa foi estabilizada e Salazar ganhou
enorme prestígio.
Consequentemente,
é nomeado Presidente do Conselho de Ministros (cargo de chefia do
governo) em julho de 1932 e, no ano seguinte, é aprovada a nova
Constituição, que dá plenos direitos Presidente do Conselho de
Ministros, mas também o direito de voto às mulheres, bem como
benefícios à classe operária.
A Ditadura
Nacional (1926-1933) e o Estado Novo de Salazar e Marcello
Caetano (1933-1974) foram, conjuntamente, o mais longo regime
autoritário na Europa Ocidental durante o séc.
XX, estendendo-se por 48 anos.
Estado
Novo é
o nome do regime
político autoritário e corporativista de
Estado que vigorou em Portugal durante
41 anos sem interrupção, desde 1933,
com a aprovação de uma nova Constituição,
até 1974.
Como
regime político, o Estado Novo foi também chamado salazarismo,
em referência ao período que
Salazar,governou
35 dos 41 anos.
O
Estado Novo (1933-1974) foi um movimento tipicamente fascista,
possuindo muitas características do Fascismo Italiano, apoiando-se
na censura, na propaganda, nas organizações paramilitares (Legião
Portuguesa),
nas organizações juvenis (Mocidade
Portuguesa,
criada
em 1936 com o intuito de orientar a juventude para os valores
patrióticos e nacionalistas do Estado Novo. Observando que a
inscrição era obrigatória entre os sete e os quatorze anos;),
com sua política repressivos
do Estado salazarista, como sua Polícia Política (PIDE),
responsáveis pelas prisões que encerravam os adversários políticos
em colônias penais e campos de deportação, que garantiam o sistema
de truculência e no
culto do líder e na Igreja Católica
A
época de 40 foi marcada pela Concordata
entre a Santa Sé e Portugal, a qual garantiu benfeitorias à Igreja
Católica em troca de apoio político. Por fim, em 1949, o regime
salazarista confirmou seu caráter anticomunista, ao se aliar aos
E.U.A e ingressar na NATO (OTAN).
Por
outro lado, a década de 1960 se distinguiu pela imersão portuguesa
em diversas guerras coloniais, ainda mais após a publicação do Ato
Colonial, no
qual as Colônias Portuguesas existentes faziam parte integrante da
Nação Portuguesa e por isso deveriam ser defendidas, civilizadas e
colonizadas. Este
fato provocou um imenso desgaste econômico e social, ainda mais pelo
afastamento por motivo de doença do líder Salazar em 1968, o qual
foi substituído por Marcello Caetano (1933-1974) no mesmo ano.
O
Estado Novo, todavia, abrange igualmente o período em que o sucessor
de Salazar, Marcello
Caetano,
chefiou o governo (1968-1974). Caetano assumiu-se como "continuador"
de Salazar ,
mas vários autores preferem autonomizar este período do Estado Novo
e falar de Marcelismo. Marcello
Caetano ainda pretendeu rebatizar publicitariamente o regime ao
designá-lo por Estado
Social.
Apesar
de existirem um Parlamento e uma Assembleia Nacional, era o
Presidente do Conselho de Ministros quem centralizava os poderes:
executivo e legislativo.
O
Salazarismo ou Estado Novo acabou em 25 de Abril de 1974, pelas mãos
de militares do Movimento das Forças Armadas (MFA), responsáveis
pelo golpe militar que conquistou Lisboa e outros pontos estratégicos
com apoio popular e um número baixíssimo de mortos, ficando
historicamente conhecido como "Revolução dos Cravos".
Os
mitos portugueses:
Todo
o cerne do fascismo português, algo distinto dos modelos fascistas
em volta no mundo, sintetiza-se na elaboração sistemática de mitos
ideológicos adaptados
à realidade lusitana:
A
– o
mito palingenético, ou o mito do recomeço:
uma “renascença portuguesa” operada pelo Estado Novo,
interrompendo a decadência nacional precipitada por mais de cem anos
de liberalismo monárquico e do seu paroxismo republicanista.
B
– o mito
do novo nacionalismo:
Não seria, o Estado Novo, mais um regime na história política
portuguesa, mas aquele que retoma o verdadeiro e genuíno curso da
história pátria, com o slogan “Tudo pela pátria, nada
contra a Nação”.
C
– o mito
imperial,
que, a exemplo do mito anterior, evocava a dupla vocação
histórico-providencial de colonizar e evangelizar, continuando a
gesta heróica dos nautas, dos santos e cavaleiros, o destino
místico da raça concretizada num reencontrado ideal de império
luso.
D
– o mito
da ruralidade:
como um país essencialmente agrário e rural, o governo buscava
nessa natureza lusa as verdadeiras qualidades da raça, onde se
temperava o ser nacional. Salazar justificava a extrema limitação
da qualidade de vida dos cidadãos com cuidadosos discursos, vindos
de sua fala mansa, quase clerical. A terra, portanto, como a primeira
e principal fonte da riqueza possível, o caminho da ordem e da
harmonia social, o tal berço das virtudes pátrias. Inevitavelmente,
o modus
operandi deste
mito conduz-nos à apreciação de um outro, uma autêntica vocação
de pobreza bastante adequada às modelações do partido estabelecido
no poder, o mito
da pobreza honrada,
ou a ausência de ambições doentias e disruptoras da promoção
social, a conformidade de cada um com o seu destino.
E
– o mito
da ordem corporativa,
a ideia de uma hierarquização social espontânea e
harmoniosamente estabelecida como dado intemporal, no quadro de uma
sociedade organizada e regida por uma máxima: “um lugar para cada
um, cada um no seu lugar”. Uma vocação de ordem, hierarquia e de
autoridade natural, concernentes a uma estrutura tipicamente
fascista, se bem que de gradientes inéditos no tempo e espaço
estudados.
F
– o mito
da essência católica da identidade nacional:
entendia-se aqui o catolicismo como a constitutiva do ser português,
embora o pano de fundo da religião obedecia às necessidades do
Estado, sob um disfarce de laicismo descristianizava-se a população
e hierarquizava-a dentro do aparelho regular do mesmo Estado.
Expurgado dos vícios do liberalismo, do racionalismo e do marxismo,
esse ser reintegrado e destituído de “ambições doentias e
antinaturais” estaria “pronto a cumprir seus deveres na família
e no trabalho, a pátria e o império”.
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