Conjuração Mineira
No
século XVIII, a ascensão da economia mineradora trouxe um intenso
processo de criação de centros urbanos pela colônia acompanhada
pela formação de camadas sociais intermediárias. Os filhos das
elites mineradoras, buscando concluir sua formação educacional,
eram enviados para os principais centros universitários europeus.
Nessa época, os ideais de igualdade e liberdade do pensamento
iluminista espalhavam-se nos meios intelectuais da Europa.
Na
segunda metade do século XVIII, a economia mineradora dava seus
primeiros sinais claros de enfraquecimento. O problema do
contrabando, o escasseamento das reservas auríferas e a profunda
dependência econômica fizeram com que Portugal aumentasse os
impostos e a fiscalização sobre as atividades empreendidas na
colônia.
Entre
outras medidas, as cem arrobas de ouro anuais configuravam uma nova
modalidade de cobrança que tentava garantir os lucros lusitanos. A
própria coroa passou a preferir o sistema das casas de fundição:
todo o ouro produzido devia ser transformado em barras nas casas de
fundição imperiais; e lá mesmo se retirava o "quinto d’el
rei" (o princípio geral era que Portugal ficava com um quinto
de toda a produção colonial). Ao mesmo tempo, proibiu-se a
circulação do ouro em pó e em pepitas. A própria profissão de
ourives foi proibida no Brasil. Além de vários outros tributos
medievais. Também havia o Pacto Colonial, que impedia o Brasil de
vender ou comprar de qualquer país além de Portugal.
No
entanto, com o progressivo desaparecimento das regiões auríferas,
os colonos tinham grandes dificuldades em cumprir a exigência
estabelecida, principalmente as cem arrobas. Portugal, inconformado
com a diminuição dos lucros, resolveu empreender um novo método: a
derrama. Sua cobrança serviria para complementar os valores das
dívidas que os mineradores acumulavam junto à Coroa. Sua
arrecadação era feita pelo confisco de bens e propriedades que
pudessem ser de interesse da Coroa.
Esse
imposto era extremamente impopular, pois muitos colonos consideravam
sua prática extremamente abusiva. Com isso, as elites intelectuais e
econômicas da economia mineradora, influenciadas pelo iluminismo,
começaram a se articular em oposição à dominação portuguesa. No
ano de 1789, um grupo de poetas, profissionais liberais, mineradores
e fazendeiros tramavam tomar controle de Minas Gerais. O plano seria
colocado em prática em fevereiro de 1789, às vésperas da cobrança
da derrama.
Na
verdade os inconfidentes não possuíam uma orientação política
definida, mas um conjunto de propostas, que tratavam de questões
secundárias, como a
independência apenas de Minas Gerais,
organização de sua capital em São João Del Rei ou ainda a criação
de uma Universidade em Vila Rica. Mesmo tendo caráter
separatista, os inconfidentes impunham limites ao seu projeto. Não
havia consenso com relação à libertação dos escravos. Alguns
inconfidentes, entre eles Tiradentes, eram favoráveis à abolição
da escravidão, enquanto outros eram contrários e queriam a
independência sem transformações sociais de grande impacto e não
possuíam algum tipo de ideal que lutasse pela independência da
“nação brasileira”.
Através
da delação de Joaquim Silvério dos Reis, que denunciou seus
companheiros pelo perdão de suas dívidas, várias pessoas foram
presas pelas autoridades de Portugal e a Conjuração chegou ao seu
desfecho.
Tratando-se
de um movimento composto por influentes integrantes das elites,
alguns poucos denunciados foram condenados à prisão e ao degredo na
África. O único a assumir as responsabilidades pela trama foi
Tiradentes. Para reprimir outras possíveis revoltas, Portugal
decretou o enforcamento e o esquartejamento do inconfidente de
origem menos abastada. Sua morte, durante sua época, não teve
uma grande tumulto, acabou tendo uma repercussão simbólica
posteriormente, sobretudo a partir da Proclamação
da República em 1889,
que projetou a importância da Inconfidência Mineira como precursora
dos ideais liberais e republicanos no Brasil, alçando Tiradentes à
condição de mártir da liberdade, começando assim a construção
do seu mito.
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