Literatura: Realismo


O Realismo é um movimento literário que surgiu na Europa, na segunda metade do século XIX, influenciado pelas transformações que ali se operavam no âmbito econômico, político, social e científico.
Economicamente, vivia-se a segunda fase da Revolução Industrial, período marcado pelo clima de euforia e progresso material que a burguesia industrial experimentava em virtude das inúmeras invenções possibilitadas pelas descobertas científicas e tecnológicas.
Os escritores, diante desse quadro de mudança de ideias e da sociedade, sentem a necessidade de criar uma literatura sintonizada com a nova realidade, capaz de abordá-la de modo mais objetivo e realista do que até então vinha fazendo o Romantismo.
As descobertas científicas, as ideias de reformas políticas e de revolução social exigiam dos escritores, por um lado, uma literatura de ação, comprometida com a crítica e a reforma da sociedade, e de outro, uma abordagem mais profunda e completa do ser humano, visto agora à luz dos conhecimentos das correntes científico-filosóficas da época.
Aparece então o Realismo, que procura, na literatura, atender às necessidades impostas pelo novo contexto histórico-cultural. Suas atitudes mais frequentes são o combate a toda forma romântica e idealizada de ver a realidade; a crítica à sociedade burguesa e à falsidade de seus valores e instituições (Estado, Igreja, casamento, família); o embasamento no materialismo; o emprego de ideias científicas; a introspecção psicológica das personagens; as descrições objetivas e minuciosas; a lentidão na narrativa; a universalização de conceitos.
A França era vista como modelo cultural e de costumes no Brasil, um território independente e cuja literatura bebia diretamente da fonte francesa.

O Realismo teve início na Europa, mais especificamente na França, como resposta ao artificialismo do Neoclassicismo e ao sentimentalismo exacerbado do Romantismo, em um momento conturbado da história do continente, repleto de revoltas sociais e de insatisfações política que foram traduzidas para a sua literatura.
Os autores desse período procuraram seguir a tendência filosófica do Positivismo, ao observar e analisar a realidade e ao reproduzi-la fielmente.
As características da literatura realista se contrapõem com as românticas. Os cenários passaram a ser urbanos e o ambiente social passou a ser valorizado ao invés do natural.
O amor e o casamento, os quais eram elementos de felicidade no Romantismo, transformaram-se em convenções sociais de aparência.
Não houve uma idealização da figura masculina como herói e sim uma exposição do homem que trabalha e que luta para sair de uma condição medíocre.
A contemporaneidade é um atributo dos autores do Realismo que se preocupavam com o momento histórico, com o momento presente da sociedade em seus contextos políticos e econômicos.
As personagens criadas foram baseadas em pessoas comuns encontradas no cotidiano dos escritores, com suas obrigações diárias condicionadas a fatores de raça, de clima, de classe social, entre outras.
A linguagem no Realismo é mais simples, sem preocupações estéticas exacerbadas, de modo a abranger um público maior.
O início da literatura realista se dá com a publicação de Madame Bovary de Gustave Flaubert, na França em 1857, recebido como um escândalo pelo público, acostumado aos heróis românticos, sonhadores e idealistas. A protagonista é Ema Bovary, uma mulher casada que busca no adultério uma saída para sua vida sem graça. No final, a personagem se mata, mas não por amor – é porque ficou endividada. 

O Realismo no Brasil tem como marco inicial a obra Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis e “O Mulato” de Aluísio Azevedo.

O  Realismo encontrou no Brasil uma realidade propícia para a ascensão da literatura, já que escritores como Castro Alves e José de Alencar haviam preparado o terreno. O país havia vivenciado fatos importantes como a Guerra do Paraguai (1864 – 1870), a campanha abolicionista, o fortalecimento da economia agrária.

A queda da escravidão e do Império criou uma nova realidade no país; a vida social e cultural tornou-se mais ativa, ambas influenciadas por ideais europeus: liberalismo, socialismo, positivismo, cientificismo, determinismo etc.
É nesse contexto que surge um dos mais importantes escritores de nossa literatura: Machado de Assis.
Os escritores do período podem ser considerados antimonárquicos, pois criticam a monarquia e defendem o republicanismo; antiburgueses, pois denunciam a hipocrisia da família patriarcal burguesa como célula da sociedade, e anticlericais, pois defendem a separação entre Estado e religião.
As características dos romances realistas da primeira fase, influenciada pelo romantismo, são: vocabulário claro e simples, tonalidade natural à prosa, estudo da psicologia dos personagens e narrativa linear e imaginativa. Na segunda fase, simbolizada por Machado de Assis, o estilo fica maleável, rompe-se com a linearidade, acrescenta-se o humor ligado ao pessimismo e ao desencanto.

Outros Autores

  • Raul Pompéia: “O Ateneu”
  • Aluísio Azevedo: “O cortiço”,”O Mulato”, “Casa de pensão”
  • Inglês de Souza: “O missionário

Outras características da Literatura realista
  • Herói problemático, cheio de fraquezas;
  • Não idealização da mulher.
  • Valorização do ambiente social em detrimento do natural;
  • Ênfase na realidade vivida e pensada pelos indivíduos, e não em suas emoções subjetivas;
  • Preocupação dos autores em retratar o momento histórico e seus contextos políticos e econômicos;
  • Diferenças sociais entre as pessoas de diferentes etniascondições físicas classes sociais;
  • Análise dos sujeitos não somente em suas individualidades, mas na coletividade;
  • Desidealização das relações interpessoais.

O movimento se encerra no Brasil na primeira década do século 20, com as publicações de "Os Sertões", de Euclides da Cunha, "Canaã", de Graça Aranha, ambos em 1902, e com o surgimento de Lima Barreto, que ainda tem uma obra impregnada das tendências sociais do Realismo, apesar de se encontrar na fronteira, e também ser considerado um pré-modernista.


Realismo em Portugal

Realismo em Portugal tem início em meados do século XIX que pôs de dois lados os que defendiam Romantismo e outros, que defendiam o Realismo e o Naturalismo. Esse confronto ficou conhecido como “Questão Coimbrã”.
Os principais representantes do Realismo em Portugal foram Eça de QueirósAntero de Quental e Teófilo Braga. Eles pertenciam a chamada “Geração de 70” ou “Geração de Coimbra”.
Eles se preocupavam mais com as questões sociais e propunham novas maneiras de fazer literatura. Apresentavam novas ideias e modelos que chegavam de diversos países europeus, sobretudo da França e da Inglaterra.
Assim, a literatura realista portuguesa veio mostrar que Portugal estava alicerçado em ideias retrógradas as quais atrapalhavam o desenvolvimento cultural do país.
As ideias da “Geração de 70” foram essenciais para o avanço da literatura portuguesa. Foram capazes de modificar as posturas e as atitudes, trazendo à tona temas de caráter social.
O Realismo em Portugal teve como marco inicial a Questão Coimbrã (1865), quando se defrontam, de um lado, os jovens estudantes de Coimbra, atentos às novas ideias que vinham da França, Inglaterra e Alemanha e, de outro, os velhos românticos de Lisboa.

Comentários